23 abril 2011

SÁBADO DA ALELUIA

















Malhação do Judas

Escrito por Administrator Seg, 05 de Abril de 2010 13:28
Lúcia Gaspar
Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco
pesquisaescolar@fundaj.gov.br
Malhar o Judas ainda é uma prática comum no Brasil, apesar do costume estar desaparecendo das grandes cidades, principalmente por falta de local adequado ou pelos perigos que representa. Hoje, a brincadeira está restrita, praticamente, a algumas cidades do interior do Brasil, que continuam preservando a nossa cultura e tradições populares.

A brincadeira acontece na Semana Santa, especificamente no sábado de Aleluia. Bonecos de palha ou de pano, pendurados em postes de iluminação pública, galhos de árvores, porteiras, currais, são rasgados e queimados.

No Nordeste, é também conhecida como enforcamento do Judas. A cidade amanhece com postes enfeitados com diversos judas: bonecos feitos com um paletó velho, camisa, calça, meias, sapatos, meias colocadas nas mãos, gravata, cujo corpo é enchido com trapos, panos velhos, raspas de madeira e jornais.

O Judas representa o personagem bíblico, Judas Iscariotes, que traiu Jesus Cristo com um beijo por 30 moedas. Consumada a traição, arrependeu-se, tentou restituir o dinheiro, mas, repelido pelos sacerdotes, enforcou-se numa corda.

A brincadeira seria uma maneira dos católicos se vingarem da traição do Judas. Antes do boneco morrer enforcado como o traidor, no entanto, tem que apanhar e ser bastante xingado.

No Rio de Janeiro, no século XIX, os judas traziam fogos de artifício no ventre e apareciam junto com demônios, ambos ardendo colorida e apoteoticamente e sendo aplaudidos pelo povo.

Atualmente, o boneco é feito com a fisionomia de alguma personalidade do mundo político, social, econômico, artístico ou esportivo que não é apreciado pelo povo, merecendo portanto ser ridicularizada, xingada e condenada.

No Brasil, faz-se também o julgamento de Judas, antes da sua condenação e execução. O “testamento” é adaptado ao folclore de cada região. Alguém o retira normalmente do bolso do boneco e o lê. Trata-se de uma sátira das pessoas e coisas locais. A “herança” só tem graça para o povo da cidade que vive o seu dia-a-dia e conhece os personagens com quem a ou a quem o Judas se refere.
 Seguem alguns exemplos:

Deixo para o Mestre Isaías

Como o Antônio Nel uma questão:

A Antônio Nel diz que sim!

Mas o Mestre diz que não!

Diz que é mentira pura,

Que não como RAPADURA

Acompanhando a procissão

Deixo para o “João da Bela”

O meu canário “parteiro”

Que ele cria como bem

Mas é um “buga” verdadeiro

Vive em casa esvoaçando

Com o João “Curruxiando”

Na tenda de sapateiro

Aqui vai este sapato para o Sr. Antônio

O chapéu para o Sr. José

A gravata para o Sr. Willian

O paletó para o Sr. Aílton

O cinturão para a Sra. Maria

A camisa para o Sr. Geraldo

A calça para o Sr. Cristiano

Nos lugarejos do interior brasileiro, principalmente no Nordeste, o “testamento” é manuscrito, em folhas de papel almaço e distribuído entre alguns amigos. Quando existem tipografias no local, ele é impresso e colocado por debaixo das portas das casas, de madrugada e, às vezes, vendidos pelas ruas.
Recife, 31 de agosto de 2005.

(Atualizado em 16 de setembro de 2009).


FONTES CONSULTADAS:

MALHAÇÃO do Judas. Quem lembra? Disponível em: Acesso em: 26 ago. 2005.

MOTA, Ático Vilas-Boas da. Queimação de Judas: catarismo, Inquisição e judeus no folclore brasileiro. Rio de Janeiro: MEC,SEC,FUNARTE; Instituto Nacional do Folclore, 1981.

ROSSATO, José Carlos. Nosso folclore. São Paulo: Soma, 1987.
COMO CITAR ESTE TEXTO:
Fonte: Gaspar, Lúcia. Malhação de Judas. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: . Acesso em: dia mês ano. Ex: 6 ago. 2009.

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